A cor de um automóvel: o que significam, razões para serem escolhidas, as preferências dos europeus e as mudanças ao longo dos tempos

As cores preferidas pelos portugueses para os seus automóveis são o preto e o cinzento. Olhando para o panorama actual das nossas estradas isso não é propriamente uma surpresa. Arrisco acrescentar ainda o branco, cor muito utilizada nas versões comerciais por ser a opção mais barata. Mas um estudo recente da Ford chega a conclusões curiosas: são os suecos e não os holandeses quem gosta mais da cor laranja, enquanto os checos preferem o azul, ao contrário dos franceses que optam mais pelo creme. E quem diria que a nossa preferência de cores é a mesma que... os noruegueses?

A expressão ficou célebre e ainda hoje é incontornável quando se fala de um dos carros mais famosos da história do automóvel: “O carro está disponível em qualquer cor, desde que seja preto”. A razão de Henry Ford não estava somente no preço, garantido por um custo de fabrico baixo; é que, à cadência a que eram construídos e com a procura que havia, o preto era a cor que secava mais rápido.
No entanto, quando apareceu, o Ford T era vendido em cor à escolha do cliente. Apesar de no início do século vingarem as cores sóbrias e a palete de escolhas possíveis ser reduzida.
Mais frequentemente, muitas carroçarias conjugavam mais do que uma cor e quebrarem a monotonia monocromática com aplicações em madeira ou metal polido. Na carroçaria mas também nas jantes e até mesmo através de faixas brancas coladas aos pneus.


Revolução nos costumes


Foi sobretudo o pós-guerra que trouxe outra alegria às estradas europeias. Na verdade, essa tendência despontou durante os loucos anos 20/30 na América, mas só se acentuou quando a prosperidade do boom económico americano, das décadas de 50 e 60, proporcionou a muitos jovens, e até às mulheres, o acesso ao automóvel.
Por terras do Tio Sam, quando os carros não eram espampanantes nos seus imensos “rabos de peixe”, eram pintados com cores garridas, não raras vezes mais do que uma, estofados com recurso a materiais novos e vistosos, abundando em cromados e reflexos espelhados.
Apesar disso, na Europa soturna e em recuperação predominavam ainda os tons suaves de cores pastel. Por razões de economia, modelos populares da Ford, Renault, Mini ou Fiat, por exemplo, eram essencialmente vendidos com acabamento mate, sendo posteriormente personalizados por muitos proprietários à medida das suas posses.
Foi em grande parte por essa demonstração de necessidade de personalização e vontade de se diferenciarem, que começaram a surgir modelos com cores mais estranhas: roxo, verde-vivos, rosa, amarelo torrado ou alaranjado.
Mas também os padrões de xadrez e as carroçarias floridas, tão populares entre os movimento hippies da época. Alguns modelos, como o VW Carocha por exemplo, tornaram-se mesmo símbolos de uma geração e de um modo de vida.
Algumas destas cores e pinturas ousadas foram gradualmente adoptadas por alguns fabricantes. Quer para modelos mais desportivos, quer para versões especiais com motivos específicos. No final dos anos 60 a moda aliou-se à construção automóvel, os padrões mais em voga eram utilizados para revestir o habitáculo e elegantes modelos femininas passaram a publicitar estas versões em páginas das revistas do social.
A competição automóvel ajudou também à divulgação de algumas cores ou variações de tom. O vermelho-vivo é seguramente o mais popular dos exemplos, mas o azul gaulês (azur france), o verde inglês (british racing green) ou o prateado alemão, são cores indelevelmente associadas à Ferrari, Alfa Romeo, Gordini, Lotus, Audi ou Mercedes.


De hippies a yuppies


O final dos anos 70 parece ter interrompido um ciclo. A Alemanha foi um dos últimos países construtores que ousou escolher cores como o verde ou o azul metalizados para o lançamento da primeira geração do VW Golf, a Opel ou a Audi com modelos em flamejante tom laranja.
As cores vivas e hippies foram gradualmente dando lugar a uma sobriedade “yuppie”. Carros mais populares ou familiares aburguesaram-se, parte desse aburguesamento passou por se tornarem mais sóbrios, mais discretos, numa tentativa de adquirirem maior prestigio. Marcas como a Audi, a Renault, a Peugeot ou a própria Fiat enveredaram por linhas que davam menos nas vistas, parecendo capazes de agradar a um leque mais alargado de consumidores.
Foi um tempo algo monótono em que, invariavelmente, as silhuetas automóveis se confundiam. O padrão ocidental alterou-se. Deixaram de se pintar “capots” de preto para quebrar o brilho do sol e dar um aspecto de “carro de corrida”, desapareceram as faixas coloridas que rasgavam as carroçarias de ponta a ponta, a napa ou vinil abandonaram os tejadilhos, e os novos padrões de segurança automóvel acabaram com os pára-choques cromados e os seus imponentes “castelos” de borracha, onde muitas vezes se instalavam faróis auxiliares de vidro amarelado para quebrar o nevoeiro.
Num Portugal mais monótono e menos ousado nas cores, salvo o dessas versões mais “racing” habitualmente personalizadas pelos mais jovens, o ponto alto era a típica decoração preto/verde dos táxis nacionais. Sinal dos tempos e da profunda adesão à União Europeia que por vezes nos assola, alguém inventou a obrigatoriedade de passarem ao creme pastel.


Hoje e o Futuro


As cores brilhantes e garridas parecem estar de volta. Essa é a boa notícia. Mais uma vez pela vontade de estabelecer a diferença. Uma vontade que os fabricantes acompanham — e até estimulam — lançando versões especiais e novos modelos destinados a nichos de mercado.
Os métodos de produção actuais tornam mais fácil corresponder a esse desejo. Já não é tão complicado efectuar alterações nas cadeias de produção, tanto computadores como “robots” são mais fáceis de programar do que formar ou alterar rotinas humanas.
A palete de cores alargou-se. Hoje é quase infinita. A publicidade gerou novos hábitos, estimula novos desejos. Na fase de lançamento em Portugal da primeira geração do Citroën C3, ele foi massivamente publicitado com uma cor azul clara. Não era, de todo, uma das cores em que o importador nacional apostava, mas foi uma daquelas com que o modelo mais se vendeu. Há mais anos atrás, o representante português de uma conhecida marca de automóveis foi obrigado a encomendar à fábrica um modelo pintado em cor de rosa. Tal e qual como aparecia num anúncio televisivo. Uma cliente insistiu em ter um sob a ameaça de publicidade enganosa...
A opção por uma cor também pode ter um significado muito preciso. Além de poder ficar a dever-se a razões profissionais (hoje em dia isso não é tão necessário graças à facilidade que há em revestir uma carroçaria com publicidade), tons de azul traduzem calma, de verde significam esperança, preto, cinza metalizado ou branco tornam-os mais discretos, vermelhos ou amarelos reflectem vontade do contrário...
Também aqui nada de novo. Embora os especialistas acreditem que a tendência futura é, cada vez mais, para uma maior personalização do automóvel, assumido como uma extensão da personalidade do seu proprietário. Quanto mais prolongada for a época de indefinição ou de insegurança, como aquela que actualmente vivemos, permanentemente marcada por ameaças terroristas e pela instabilidade financeira, mais se acentuará essa necessidade.
O automóvel acaba por ser, no fundo, matéria de realização do indivíduo e a sua "zona de conforto", na qual passa cada vez mais a maior parte da sua vida. Preso no seu interior em viagens para distâncias cada vez maiores, nos engarrafamentos ou simplesmente à procura de um lugar para o estacionar.
Isso explica, igualmente, a disponibilidade de mais equipamento: complexos sistemas de som, DVD, navegação, climatização, etc, etc...


Razões e explicações para alguns tons


BRANCO é a cor do luto no Japão. Mas é também uma cor procurada em países de sol abundante. Por ser a que melhor reflecte os raios solares, garante um habitáculo mais fresco. É ainda um tom que não sai de moda e que se adapta facilmente a personalizações. Hoje em dia, com as técnicas de tratamento da chapa, deixou de estar sujeita às inevitáveis marcas de ferrugem que o tempo vinha a criar na carroçaria. Presentemente está muito na moda.


Nem todas as cores ficam bem em todos os carros. O CINZENTO PRATA, invariavelmente metalizado, é uma cor inócua que se adapta a todos os estilos e a todos os gostos. É uma cor para todas as ocasiões e um autêntico o "pret-a-porter" da pintura automóvel. Não deve haver carro que não ofereça esta cor. É resistente e a que melhor disfarça riscos e poeiras. Daí ser também tão popular.


Os METALIZADOS fortes são bastante utilizados nas decorações personalizadas. E ao contrário do que se possa imaginar, utilizam-se desde os primórdios do automóvel. No princípio misturavam-se quilos e quilos de escamas de peixe moída para dar-lhe brilho, até que partículas minúsculas de alumínio começaram a ser dissolvidas na tinta. Algumas cores são bastante delicadas, mais sujeitas a riscos e à acção do sol.


As preferências dos europeus


França e Itália apreciam cores creme para os veículos. Na República Checa os clientes da Ford optam pelo azul, muito mais do que em qualquer outro país. E os Irlandeses, tradicionalmente associados à cor verde, preferem conduzir veículos prateados.
As tendências de cor – como a moda – mudam todos os anos. Um número pequeno mas crescente de compradores têm vindo a escolher o castanho, o cobre e outros tons terra, revela o estudo da marca americana. “Os tons de castanho estão a protagonizar um regresso à moda, à decoração de interiores, e agora também à indústria automóvel, revitalizados pela excitante combinação dos interiores com a cor exterior”, pode ler-se nas suas conclusões.



Este é o “top 5” das cores escolhidas em cada País (por percentagem de Veículos Ford vendidos em 2010)

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