ENSAIO: Hyundai i10 1.1 CRDi

NA INDÚSTRIA automóvel, são muitos os pequenos carros que marcaram épocas e permitiram às respectivas marcas ganhar projecção. Entre os construtores europeus avultam exemplos, mas também os japoneses começaram a cativar adeptos do Velho Continente por via desse segmento. Quanto aos coreanos, com uma honrosa excepção ― de enorme sucesso -, a penetração no mercado foi sendo feita com modelos de segmento superior.
Em tempos de crise ― que são aqueles em que vivemos, pelo menos para alguns... ― os pequenos automóveis ganham redobrada importância, devido ao seu preço e também porque, geralmente, consumem menos. Quando ainda por cima tem associado um motor a gasóleo como é o caso deste Hyundai i10 1.1 CRDi, também se prova que pequeno não tem, necessariamente, de ser sinónimo de frágil, acanhado ou limitado no desempenho!

É COMPLICADO falar deste carro, sem referir outros dois: antes de mais, o anterior Hyundai Atos, o primeiro citadino que o fabricante coreano lançou na Europa. E o actual Kia Picanto, «primo» do i10, com o qual partilha mecânica e muito da restante estrutura. Quanto ao Atos, a evolução em termos de qualidade dos materiais e comportamento ― bastante nítida, aproximando-o, claramente, dos padrões estéticos e exigências de qualidade europeus. Em contraponto ao modelo da outra marca do grupo Hyundai, o i10 apresenta um traço dianteiro mais suave, um grupo óptico mais esguio e desportivo, reservando para o interior o seu maior trunfo: cinco lugares, face a quatro do Picanto.

O HABITÁCULO do Hyundai i10 surpreende positivamente. Claro que é optimista pensar em transportar comodamente 5 adultos, mas os cintos de segurança existem e podem muito bem ser usados por crianças, por exemplo. Por falar nisso, uma das grandes vantagens dos citadinos com cinco portas e razão pela qual são também apreciados, é o acesso facilitado aos lugares traseiros, nomeadamente quando se transportam crianças de colo.
O espaço para as pernas é bastante razoável, dependendo naturalmente das necessidades dos ocupantes dianteiros. O resultado meritório é alcançado com ligeiro sacrifício da mala que se queda pelos 225 litros de capacidade, mas que alberga roda de reserva. É possível rebater assimetricamente os bancos para ampliar este valor, com o portão traseiro a abrir a toda a largura para facilitar o acesso a um plano de carga ligeiramente mais baixo.

O INTERIOR evoluiu não apenas na qualidade dos revestimentos plásticos, de aparência mais sólida quando tocados, mas também com fixações mais robustas. Isto é naturalmente importante quando se transita em cidades como as portuguesas, onde abundam não apenas as «armadilhas» urbanas como os trajectos em pedra irregular. Outro sinal dos novos tempos, é o desenho do tablier. Qualquer comparação com o anterior é mera coincidência, não apenas pela simetria equilibrada das linhas, como na alegria transmitida pelo jogo de cores e pelo desportivismo de um volante com excelente pega. Moderno, mas não só: funcional também, com bom aproveitamento de pequenos espaços.

MAL SERIA que os elogios ao interior não se estendessem à posição de condução. A visibilidade em manobra é, como não podia deixar de ser, boa e o banco suficientemente confortável e com apoio, para não massacrar muito o condutor em viagens mais prolongadas. Os comandos surgem dispostos de forma racional, no painel de instrumentos existe conta-rotações, e um volumoso ― e até certo ponto retro ― velocímetro evidencia-se com o seu fundo em branco.

A PLATAFORMA sobre a qual o i10 assenta, trouxe-me à memória a impressão tida com o, também Hyundai, Getz. Trata-se de uma das mais robustas do segmento, em termos de rigidez torcional. Pese embora o curso pequeno da suspensão, bem como a altura dos pneus, tem um desempenho aceitável no que toca a absorver as irregularidades e a garantir o conforto.
Não deixando de existir algumas vibrações esperadas numa estrutura mais leve, esta mesma suspensão transmite segurança e estabilidade, mesmo nas velocidades nada recomendáveis.

NO «CORAÇÃO» do i10 pulsa uma espantosa obra da tecnologia mecânica, um tri-cilíndrico capaz de debitar uns espantosos 75 cv. O valor de binário, também nada desprezível, faz sentir-se cedo graças a uma caixa de cinco velocidades, onde as duas primeiras relações se apresentam bastante curtas. Como é óbvio, existem algumas limitações em situações de maior carga, mas, com apenas dois ocupantes e em circuito urbano, este Hyundai demonstra uma notável vivacidade. Ágil e desembaraçado, graças não apenas à excelente capacidade de manobra como às virtudes desta unidade motriz que «cresce» com o turbo com geometria variável, o «pequeno» coreano proporciona um insuspeitável divertimento e cumpre cabalmente a função para a qual foi projectado. Com o bónus de ser contido nos «gastos»...

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PREÇO, desde 12850 euros 
MOTOR, 1120 cc, DOHC, 3 cilindros em linha com turbo de geometria variável (VGT), 12 V, 75 cv às 4000 r.p.m., 153 Nm das 1900 às 2750 rpm 
CONSUMOS, 5,3/3,8/4,3 l (cidade/estrada/misto) 
EMISSÕES CO2, 114 g/km
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