ENSAIO: Renault Clio III Break 1.5 dCi 85cv


EMBORA A RECEITA pareça simples, nem sempre o cozinhado resulta perfeito: acrescentam-se alguns centímetros à traseira para aumentar a capacidade da mala, refaz-se a zona lateral traseira normalmente a partir do pilar central e cria-se uma «quinta porta». E é aqui que às vezes se despista o tempero e se estraga a ementa...
Não é o caso desta break, presente, pela primeira vez, na terceira geração do utilitário Clio. A avaliar pelos comentários que fui ouvindo, parece ser consensualmente positiva no que respeita à parte estética. Mas estas transformações obrigam sempre a outras alterações menos visíveis, com influência directa sobre a atitude, o comportamento e a segurança do conjunto...

UM PALMO a mais (22 cm) e aí temos um Clio capaz de rivalizar, em termos de capacidade da mala, com qualquer viatura do segmento mais acima. Inclusive com o Mégane... não, a esse também supera em termos de bagageira... com o Modus, o Grand Modus... também não... na realidade o Clio break não parece de início, mas oferece uma mala suficientemente ampla para uma polivalência familiar que tanto pode incluir as compras mensais do supermercado, umas férias mais prolongadas ou acondicionar um ou mais carrinhos de bebé. Tudo isto sem sacrificar a facilidade de manobra e de condução que um utilitário proporciona, conseguindo ainda garantir maior conforto face ao modelo que lhe deu origem.

COM A MESMA distância entre eixos dos modelos de 3 ou 5 portas e virtualmente com as mesmas quotas de espaço para os ocupantes das duas filas de bancos, a maior comodidade advém, sobretudo, da maior sensação de espaço e de uma insonorização bastante cuidada. Mesmo se a configuração dos bancos dianteiros continua a deixar algo a desejar quando se enfrentam viagens mais longas.
De facto, em determinadas situações, o Clio Break tem a atitude de um modelo de segmento mais elevado, com grande segurança nas reacções e uma postura dinâmica deveras interessante. A suspensão traseira, mais firme e reforçada de forma a suportar mais carga, comporta-se de forma correcta, acompanhando a trajectória em curva. Aliás, a estrutura não deixa de continuar bastante compacta – 4,2 metros - e o único inconveniente que poderia resultar desta maior firmeza - e que não acontece - seria o eixo traseiro tornar-se mais saltitante ao transitar em piso irregular.


ORA SE a qualidade de construção já era um trunfo desta geração do Clio – com excepção das versões «de entrada» - e se tinham registado francas melhorias na habitabilidade face aos anteriores, a boa posição de condução em matéria de visibilidade e funcionalidade mantêm-se, inclusive para as manobras traseiras. O tablier de linhas simples, é bonito, actual e racional na disposição dos comandos, sem oferecer mais funcionalidades do que aquelas que já possuía. Mesmo em matéria de pequenos espaços, não existem muitos por onde escolher, apenas o habitual porta luvas e no forro das portas, bem como entre os bancos e junto à alavanca das mudanças.
Há que referir, no entanto, que o equipamento é generoso em todas as versões, particularmente no que toca a itens de segurança.


O MAIS importante deste carro é, naturalmente, a forma e capacidade da mala. Para começar, as suas dimensões superam a de alguma concorrência, embora seja menor do que a do vencedor deste campeonato, o novo Škoda Fabia. Mesmo assim, rebatendo os bancos traseiros, oferece pouco menos de metro e meio de profundidade e mais de 1200 litros de capacidade (439 l, com os cinco lugares), com a vantagem de, nesta situação, o piso de carga ser plano. Isto porque existe um duplo fundo ou seja, uma tampa ou «piso móvel» que «esconde» um segundo compartimento, enquanto o pneu suplente, igual aos restantes, se mantêm no exterior.

O forro lateral não tem compartimentos, deixando à vista todos os ângulos. A qualidade dos revestimentos da mala - como, de resto, a qualidade dos restantes, incluindo plásticos, no resto do habitáculo - é boa e muito cuidada face ao segmento em causa, contribuindo para a insonorização e bem estar dos ocupantes.


AINDA QUE, o que melhor contribui para essa insonorização, seja, sem dúvida, o virtuoso motor 1.5 dCi que o equipa. Suficientemente potente (existe uma versão acima com 105 cv), extraordinariamente económico e silencioso, além de praticamente isento de vibrações, contém binário bastante para ser correctamente aproveitado pela sua transmissão de 5 velocidades. O uso de um evoluído sistema de alimentação, permite-lhe ainda baixas emissões poluentes. Com apenas 2 válvulas por cilindro e embora só demonstre mais empenho a partir das 2000 rpm, um correcto escalonamento da caixa, permite-lhe uma condução descontraída em cidade, valendo ainda o baixo peso do conjunto.
Mais impulsivo em estrada aberta, com valores de aceleração e velocidade máxima que não envergonham, as linhas fluídas da carroçaria são praticamente imunes a efeitos aerodinâmicos.

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PREÇO, desde 20600 euros

MOTOR, 1461 cc, 8 V, 85 cv às 3750 rpm, 200 Nm às 1900, turbo-compressor de geometria variável, intercooler, common rail
CONSUMOS, 5,2/4,0/4,4 l (cidade/estrada/misto)
EMISSÕES POLUENTES: 117 g/km de CO2
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O CLIO BREAK, dispõe de motorizações, 1.2 16V 75 cv a gasolina e 1.5 dCi de 70, 85 e 105 cv a diesel. Os preços variam entre os 15200 euros do primeiro e os mais de 22 mil euros dos 105 cv no nível de equipamento mais elevado.
Todos contêm de série ABS e 4 airbags (dianteiros), sendo o controlo de estabilidade sempre um opcional, tal como um magnifico tecto duplo panorâmico.

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