Nissan Qashqai+2 1.5 dCi


Por muito bom que um produto seja – e este até aparenta ser, o tempo o dirá sobre a sua fiabilidade - o preço final das versões com este motor é, sem dúvida, uma das razões do seu imenso sucesso.
Se o pequeno bloco 1.5 dCi de origem Renault lhe permite uma significativa vantagem fiscal, esse não é o único motivo de tão boa aceitação. A atracção começa no exterior, na estética bem conseguida e adaptada ao gosto dos consumidores europeus e estende-se pelo conceito interior prático e funcional, onde a qualidade de construção e dos materiais vai além do mero efeito visual.
Acrescentemos capacidades dinâmicas honestas, equilibradas e de acordo com o esperado, e temos um projecto bem nascido, bem desenvolvido e particularmente completo, porque oferece diversas possibilidades mecânicas e funcionais, consoante as necessidades do cliente.
Ainda que, no caso específico da versão agora em análise, não exista, dentro do género e com estas características, produto mais económico. E voltamos ao início...


No segmento médio, carros com mais funcionalidades dos que as carroçarias de 3, 4 ou 5 portas, existem as vulgarmente chamadas carrinhas, monovolumes ou similares (do tipo furgão) e alguns SUV ou veículos aparentados, de chassis mais elevado, com ou sem tracção integral. Alguns monovolumes e uma ou outra station possuem variantes de 7 lugares, e, em termos de motorizações, apenas nestes existem motores com cilindradas entre os 1300 e os 1600 cc. Nem mesmo o SUV da Renault dispõe de uma versão com este motor.
Isso permite ao Qashqai um preço de entrada para o 1.5 dCi a partir de cerca de 27 mil euros (versão de cinco lugares), com acesso à gama através do motor a gasolina 1.6/115 cv, sensivelmente 5000 euros mais barato.
Embora uma média de cerca de 7,0 litros de consumo de gasóleo nem sempre justifique a escolha pelo número de quilómetros percorridos (até porque os custos de manutenção também tendem a ser mais elevados), esta é, ainda assim, a motorização mais procurada.

Vamos então ao que interessa. O Qashqai, enquanto SUV, não traz nada de novo: plataforma ligeiramente mais elevada e possibilidade de escolha entre versões de duas ou quatro rodas motrizes. Um desempenho que privilegia o prazer, a facilidade de condução ou o conforto, são ambições de qualquer construtor. Uma estética sedutora, também não é vontade que surpreenda. Qual é, então, a razão do seu sucesso além do preço?
Diria que, além de conseguir reunir como poucos as qualidades anteriores, possui um carisma especial, capaz de criar facilmente empatia ao primeiro olhar. Possui carácter, o que quer que isso signifique num carro, é multifuncional e por vezes até camaleónico, ao conciliar a habitabilidade e o conforto de um familiar com a modularidade de um monovolume, aliando ainda uma altura em relação ao solo que dá, a quem o conduz, um misto de sensação de segurança, boa visibilidade, aventura e... alguma superioridade. Digo eu!..


Apropriado o nome de uma tribo nómada do deserto iraniano. Só que, ao contrário da forma de vida deste povo, o Qashqai apresenta um estilo moderno e nada simplista. A volúpia das formas interiores conjuga-se com cores mais alegres e desportivas, que realçam ainda mais com o tecto panorâmico em vidro (opção). A qualidade dos materiais e de construção é insuspeita. Como contrariedade realço apenas a posição algo baixa dos comandos de climatização ou a ausência de mais espaços para pequenos objectos. O restante é funcional, forma e comandos praticamente comuns ao «cinco portas».
Com uma estrutura bastante compacta, esta versão é 21 cm mais comprida. A habitabilidade dos lugares suplementares é naturalmente reduzida, sendo mais indicados para crianças. O acesso não é dos mais favoráveis, embora os bancos intermédios corram sobre calhas, libertando espaço e facilitando a entrada/saída. Em termos de conforto, não é, ainda assim, dos mais condicionados, porque o aumento da distância entre os eixos permite maior eficácia da suspensão.
Estas são as alterações mais visíveis e importantes face ao 5 lugares. Obviamente que o maior peso e capacidade de carga acabam por condicionar também o desempenho. Quando recolhida a terceira fila de bancos, a capacidade de carga sobe dos 400 para os 550 litros, com os sete lugares disponíveis esse valor é de uns irrisórios 130 litros

A visibilidade beneficia da altura - o banco do condutor sobe e bem! - e o acréscimo de dimensões não piorou grandemente a capacidade de manobra. Claro que os sensores de estacionamento traseiro acabam por ajudar e vidros anteriores (fixos) ligeiramente maiores também contribuem para isso. A direcção assistida eléctrica e um excelente volante - com algumas das principais funções do rádio, computador de bordo e cruise control -, ajudam a tornar fácil as deslocações em cidade.
Evidenciando mais uma vez o seu carácter camaleónico, o Qashqai pretende parecer - e consegue ser - tanto um nómada urbano capaz de se transfigurar num desportivo irreverente ou num jovem radical, valendo-se, para isso, de uma agilidade de manobra e de uma caixa de velocidade com as 3 primeiras relações mais curtas, para se desembaraçar no caótico e imprevisível trânsito das cidades. Essa sensação não esmorece nesta versão de sete lugares, também ela bastante compacta.


A tracção meramente dianteira e a pouca capacidade do motor limitam-no fora de estrada. É evidente que em «estradões» ou percursos mais irregulares mas consistentes, a altura é uma mais valia e as suspensões «trabalham» convenientemente perante os obstáculos. Nem mesmo o facto de dispor de pneus de estrada, o impede de mostrar apetências trepadoras. Não é de estranhar num construtor com tão vasta experiência a fazer bons «todo-o-terreno», como a Nissan.
A baixa rotação, o barulho do motor sente-se no habitáculo. Em estrada aberta esbate-se com a subida de regime. A caixa de seis velocidades está bem escalonada e é precisa, factores úteis para lombas pronunciadas, onde, com carga, o Qashqai+2 1.5 dCi requer mais trabalho do braço direito. Em recta e embalado facilmente mantém uma velocidade constante, sem desvios de trajectória ou outros efeitos aerodinâmicos indesejados, graças ao perfil da secção dianteira que é mais do que meramente desportivo. O comportamento em curva é controlada pelas usuais ajudas electrónicas, capazes de compensar o natural efeito adornante que uma maior altura em relação ao solo geralmente provoca.

PREÇO, desde 30 000 euros (+2) MOTOR,1461 cc, 106 cv às 4000 r.p.m., common rail, turbo de geometria variável, 240 Nm às 2000 rpm CONSUMOS, 6,8/5,0/5,7 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES POLUENTES 149 g/km de CO2

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