Inspecção rápida antes de uma viagem. Mais vale prevenir do que remediar...


COMO É HABITUAL, a família Silva aproveita a época para «ir a banhos» ao Algarve.
Vão todos no automóvel escolhido pela sra. Silva, depois de uma série de propostas do marido e da consulta a uma dúzia de vendedores para encontrarem as melhores condições de crédito. Que o sr. Silva nunca mais vê terminado, para poder comprar as tais jantes especiais que viu no folheto de uma conhecida oficina de serviços rápidos.
Zeloso como é, o sr. Silva faz sempre uma pequena inspecção ao veículo antes de uma grande viagem.

PARA ISSO, estaciona-o num local plano.
Trava bem, desliga o motor e deixa-o arrefecer. Não quer correr o risco de se queimar.
Calça umas luvas para não sujar as mãos e evitar ferir-se nalguma parte mais aguçada.
Retira a vareta do óleo, situada mais ou menos junto à parte central do motor, limpa-a com um pano seco e volta a introduzi-la no local. Retira-a de novo e inspecciona as marcas que assinalam os limites mínimos e máximos do nível do óleo. Se for necessário atesta, sabendo que a diferença entre as marcas raramente excede o meio litro e que se o óleo estiver demasiado escuro ou abaixo do mínimo, terá de o substituir.
Para atestar, o sr. Silva abre a respectiva tampa na parte superior do motor e recorre a óleo igual ou do mesmo tipo - mineral, sintético, etc. - com a viscosidade recomendada. Ele sabe que a falta de lubrificante provoca danos sérios no motor!

COM O MOTOR realmente frio verifica o líquido de refrigeração. Com ele ainda quente haveria o sério risco do vapor lhe queimar a mão ou mesmo a cara, além de que, se tivesse de atestar, o choque de temperaturas poderia quebrar o bloco do motor.
Uma vez, um carro antigo que teve antes deste aqueceu demasiado e teve mesmo que colocar mais água.
Por isso deixou o motor esfriar o suficiente. Depois, com as devidas precauções, para conseguir retirar o tampão do depósito sem perigo, foi despejando lentamente o liquido com o carro a funcionar, acautelando-se com os esguichos ocasionais.
Para não correr o risco de se ferir com gravidade, precaveu-se com a colocação das mãos, não deixando que nem a pulseira, nem a gravata, nem o relógio, nem o fio que trazia ao pescoço pudessem prender-se às partes móveis do motor e ferir-se com gravidade.

A SEGUIR é a vez do líquido do limpa pára-brisas, cujo depósito tem na tampa uma gravura alusiva. O sr. Silva descobriu num hipermercado um magnífico liquido desengordurante e mantém também em boas condições as borrachas do limpa pára-brisas. Além da questão da visibilidade, o mau estado destas escovas origina riscos irremediáveis nos vidros.

DEU também uma vista de olhos à bateria. Como esta ainda não é selada, acrescentou, elemento a elemento, um pouco de água destilada até à marca lateral. Teve cuidado para não se salpicar com o ácido que existe no interior; é que além de queimar a pele, recorda-se bem do que aconteceu à camisa que a mulher lhe oferecera... foi pior do que lixívia pura! Assim ou assim ele também não gostava dela... o pior foi mesmo ouvir a sra. Silva...

JÁ ANTES tinha aferido a pressão dos pneus numa estação de serviço. As rodas também não podem estar quentes para que o calor não dilate o ar do interior e forneçam uma leitura errada da pressão. Como esta varia consoante a carga, foi ao manual de instruções da viatura - ainda que o carro tivesse uma vinheta colada na parte interior dos pilares de uma das portas ou na tampa do depósito de combustível, já nem se recorda - para saber qual a mais correcta para a ocasião.
Inspeccionou o rodado: ainda tem piso suficiente e a borracha não está ressequida. É que, a par de uma pressão incorrecta ou desequilibrada, o sr. Silva sabe que isso contribui para uma condução insegura com desvios de trajectória, travagem ou curvar deficientes. Para além de desgastar prematuramente outros órgãos como a suspensão ou a direcção.
Não se esqueceu do pneu suplente porque, felizmente, o seu carro ainda tem um e não um daqueles irritantes e inúteis "kit anti-furo". Deu-lhe um pouco mais de pressão que, ao longo do tempo acabará por perder. Certificou-se do estado do "macaco", do manípulo para o elevar, da chave de rodas e do triângulo de sinalização de emergência, bem como de uma lanterna, que acrescentou depois de uma situação enrascada em que bem precisou de uma! Já aprendeu a substituir uma roda, algo que não lhe ensinaram quando tirou a carta de condução (!). Sabe que, ao aliviar as porcas e no aperto final, a viatura tem que estar no chão, para que o balanço não origine a sua queda do «macaco».

POR FIM, verificou o estado de todas as luzes da viatura, incluindo as da matricula e a da marcha atrás. Era hábito fazerem-lhe sinais de luzes na estrada, indicando que os «médios» estavam elevados, mas este carro, mais moderno, possui nivelador dos faróis. Após consultar o manual de instruções, ele adapta-os à carga que transporta.

CERTIFICOU-SE do funcionamento dos cintos de segurança e se as portas estavam a abrir correctamente. Como preza bastante a sua família não descura este pequeno gesto que, em caso de acidente (longe vá o agoiro...), se revela muito importante. Também não achou mau investimento comprar uma caixa de primeiros socorros. Nunca se sabe...

QUANDO viu as malas e os sacos que teria de arrumar, o pobre do sr. Silva julgou que ia mudar de casa! Lá conseguiu colocar a bagagem de forma a que esta não impedisse a visibilidade ou a abertura das portas, fixando-a convenientemente para evitar danos maiores no caso de uma travagem brusca ou até mesmo de uma colisão. Não se esquece do presunto que trouxe da terra no Natal, que «voou» no interior do carro quando teve que fazer uma travagem de emergência! Conferiu os documentos do carro, incluindo o seguro e a declaração amigável. Embora soubesse bem o caminho, levava um mapa de estrada actualizado para o caso de pretenderem conhecer novos locais. E pensou que talvez fosse altura de investir num aparelho GPS

DEPOIS DE PRENDER o mais pequeno à cadeira apropriada, e enquanto a restante família se instalava, ligou o carro. Tudo lhe parecia bem. A estação de rádio que sintonizou iria fornecer-lhe regularmente notícias do trânsito. Tinha optado por fazer a viagem a uma hora em que, previsivelmente, haveria menos tráfego. Até porque já estava preparado para dali a uma dúzia de quilómetros o petiz começar a perguntar-lhe: "Ainda falta muito para chegar?". Do mal o menos. A cada duas horas irá parar para descansar e não perder a concentração. E o puto aproveitará para esticar as pernas...

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