HISTÓRIA: Renault Alpine A110 "Berlinette"

A aventura começa numa pequena empresa francesa, a “Alpine”, um fabricante de carros desportivos e de corrida equipados com motor Renault. O estrondoso sucesso do A110 nas pistas de terra ou neve acabaria por levar a Renault a absorver este pequeno transformador e, a par da sigla “Gordini”, estas duas designações míticas passaram a ser utilizadas para classificar os modelos ou as versões mais desportivas da marca do losango. A nome foi recentemente recuperado para um concept-car que rodou em pista por alturas do GP de Mónaco de 2012 (conhecer NESTE texto mais pormenores sobre o Renault Alpine A110-50). Contudo, o texto que se segue refere-se ao original 110, o carismático “Berlinette” que venceria o primeiro Mundial de Ralis em 1973.
Apresentado no Salão Automóvel de Paris de 1962, o Renault “Berlinette” A110 é um carro extremamente elegante, com uma silhueta e uma mecânica que vão buscar inspiração (e algo mais) ao anterior Alpine A108.
Apesar das linhas serem de uma grande sobriedade e pureza, o seu estilo é bastante desportivo, com um capot de motor mais plano, maior superfície vidrada do que o antecessor e faróis traseiros herdados do Renault 8.
Do R8 recebe igualmente o motor, colocado numa posição central traseira, o que requer pronunciadas entradas de ar laterais para um melhor arrefecimento do bloco e do radiador.

Interior acanhado

Com chassis em aço e carroçaria em fibra de carbono, a exemplo do igualmente carismático Lotus Elan, o original A110 está longe de ser um carro de condução fácil. A pureza e simplicidade do traço serve tão só para ajudar a ganhar ralis e vincar, ainda mais, o imenso carácter do conjunto.
Por isso, não se “entra” simplesmente num Alpine. É necessário como que deslizar para o seu interior acanhado, demasiado justo para pilotos com maior porte corporal ou simplesmente com estatura acima da média. Com o capacete colocado o cenário piora, tornando-se complicado imaginar o modo de fazer um rali inteiro sem ganhar, no final, meia dúzia de hérnia discais.

Comportamento temperamental

A verdade é que, uma vez tomado o contacto com o seu volante, a osmose é praticamente imediata. A maneabilidade e a motricidade são os seus pontos fortes, graças à colocação do motor atrás, o que provoca constantes derrapagens que exigem grande trabalho de volante e acelerador.
“A direito”, o comportamento torna-se ainda mais problemático, com a tracção traseira em permanente competição com a frente do carro. Mas em que é que isso interessa, num puro desportivo em que até os defeitos podem revelar carácter? Ou até que, provavelmente, podem acabar por revelar serem uma das maiores qualidades do Alpine A110…
Porque este carro não nasceu para ser conduzido, antes para ser pilotado pelos melhores!

Nascido para correr

Os dois pontos fortes do Alpine A110 são a leveza e a maneabilidade. Não é fácil mantê-lo sempre a fundo nas pistas mas, quando se conhecem as manhas e os trejeitos do “Berlinette”, ele é, seguramente, um carro capaz de fazer a alegria dos espectadores mais ferrenhos. Quanto mais não seja quando se envolve em momentos, digamos, acrobáticos!...
Não sendo um carro para todos, mas tão só para uns poucos dotados, foram vários os pilotos que arrecadaram troféus em competição, E, se o ponto alto da carreira foram as cinco (!) primeiras posições no exigente Rali de Mónaco e o Campeonato Mundial de Ralis em 1973, a primeira vitória de um A110 aconteceu no Rallye des Lions, em 1963, pelas mãos de José Rosinski.
Nos anos seguintes, vários pilotos privados competiram em provas internacionais, em concorrência directa com carros bem mais potentes.

Campeão de França

Só em 1967 é que foi criada equipa e os Alpine passam a ser conhecidos como Alpine Renault. Alguns pilotos novos começam a dar nas vistas: Gérard Larrousse, Jean-Claude Andruet e Jean-Pierre Nicolas na equipa de fábrica e Bernard Darniche entre os “privados”.
Em 1968, com 4 vitórias, Jean-Claude Andruet obtém o título de Campeão de França.
No ano seguinte, quem recebeu esse troféu foi Jean Vinatier, embora Jean-Claude Andruet também tivesse alcançado algumas vitórias em 1969.
Em 1970 o Berlinette 1600 S é homologado no Grupo 4. Jean-Claude Andruet volta a conquistar os títulos de Campeão de França, ao qual junta também o de Campeão da Europa.
A internacionalização começa verdadeiramente em 1971: Ove Andersson “voa” alto em Monte Carlo e ganha essa prova pela primeira vez. Jean-Luc Thérier é segundo e Andruet terceiro. Três Berlinette ocupam assim inteiramente o pódio.
Ove Andersson ganha também em Itália, face às armadas Fiat e Lancia e sai vitorioso na Áustria e na Acrópole, alcançando o primeiro título internacional do Alpine Renault.
Por seu lado, Jean-Pierre Nicolas sagra-se Campeão de França.
Em 1972 o bloco de 1600 cc é substituído por um motor mais potente com 1800 cc. Jean-Claude Andruet ganha a Volta à Córsega e todos os pilotos da equipa obtêm vitórias em outras provas.
No final da temporada, Bernard Darniche sagra-se Campeão de França.
Jean-Luc Thérier ganha o Rallye des Cévennes. O significado deste feito está, contudo, no novo motor 1600 TURBO. Está prestes a começar uma nova era para o modelo francês.

Campeão do Mundo

Uma era cujo apogeu aconteceu, como anteriormente se disse, logo no ano seguinte. Em 1973, dispondo dos melhores pilotos franceses da época - Andruet, Darniche, Thérier, Nicolas, Piot -, aos quais se junta o experiente Ove Andersson, a época começa com a vitória de Andruet no Monte Carlo. Atrás dele ficaram quatro outras “Berlinettes”.
No Rali de Portugal, Thérier e Nicolas alcançam mais uma “dobradinha” e, no Rali de Marrocos, Darniche obtém nova vitória.
No final de uma temporada de sucessos, a Alpine Renault é a primeira Campeã do Mundo de Ralis (o campeonato foi criado nesse ano) e Jean-Luc Thérier sagra-se Campeão de França.
Os anos de 74/75 representam os duros anos de um choque petrolífero que atinge a Europa, decorrente dos problemas no Canal do Suez, mas também os últimos da equipa oficial. J.P. Nicolas ainda vence o rali de Marrocos e é segundo na Volta à Córsega. O Berlinette A110 termina a sua brilhante carreira com uma vitória no Critérium des Cévennes.

Motores

Muitos foram os motores colocados ao serviço do A110.
Inicialmente, em 1961, receberia o do R8: um singelo bloco de 1,1 l, capaz, contudo, de alcançar 95 cv às 6500 rpm e de levá-lo para além dos 200 km/h!
Aumentos da potência acontecem com o uso de um motor 1.3 do R12 (105 a 120 cv), embora, pontualmente, também tenham saído da fábrica versões com motores 1.5 (82 cv, o mesmo bloco que serviria o Lotus Europa) e 1.6 (92 cv, igualmente do R16).
Já nos anos 70 dá-se a explosão em competição. Primeiro com o uso do bloco de alumínio do Renault 16 TS. Com dois carburadores de corpo duplo Weber 45, este motor desenvolvia potências que podiam chegar aos 138 cv às 6000 rpm, permitindo ao Alpine A110 1600S dispor de mais binário e voar acima dos 210 km/h.
Considerado um dos melhores carros de rally do seu tempo, o Renault Alpine A110 manteve versões “civis” até 1978, ano em que cessa a produção. Para esses destina, nos anos 70, os motores 1.3, 1.6 e até 1.7 (do R12, do R16 e até do R17) chegando a fazer algumas incursões, sem grande sucesso, nas tecnologias de injecção de combustível ou nas cabeças multiválvulas. Afinal, a ligeireza seria sempre um dos seus grandes trunfos e as versões de competição nunca pesaram mais de 700 kg, em vazio.
Não foram produzidas mais de 7500 unidades, incluindo algumas centenas fabricadas por produtores do Brasil, México, Bulgária e Espanha. Facto curioso, entre essas muitas variantes comercializadas sob licença da Renault, foi uma, montada no Brasil sob a designação Interlagos, que deu a partida à carreira de um jovem que se tornaria num dos vultos maiores do desporto automóvel: Emerson Fittipaldi.
Segue-se a lista de motores ressalvando o pormenor das potências obedecerem a uma valência diferente daquela a que estamos habituados.

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